sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Rosto da Morte

Corria o Ano de 2000, em meados de Abril. Neste dia que morria fazia dezoito anos, dezoito anos que palmilhava a face da Terra.
Decidi  dar um passeio pela aldeia que me viu nascer e crescer. Já passava da meia-noite. Pelo caminho encontrei um pequeno desvio ocultado pela formosura dos arbustos que pintalgavam o caminho. Desvio que desembocava numa enseada junto à praia. Muitas vezes havia palmilhado aqueles caminhos, mas este nunca antes tinha descoberto.

Avancei até à beira mar e, subitamente, reparei na figura de anjo, de olhos azuis como o mar que beijava os seus pés descalços, os seus lábios vermelhos como o sangue que me enchia de vida, e o seu corpos esbelto e de delicados traços.

Logo impelido pela sangue que me fervia nas veias tentei conversa com tal anjo. Ainda hoje recordo o jeito meio tímido com que me respondeu, a sua conversa simpática e inteligente. Durante esses instantes descobri que os seus pais tinham sido acusados de serem seguidores de uma qualquer seita satânica e tinham sido expulsos da aldeia onde viviam, acabando por encontrar refugio na floresta. 

Desde então eu fora a única pessoa com quem se cruzara até hoje. O tempo voava! Já a manhã acordava e a noite fugia daquela enseada esquecida. Despedimo-nos e eu fui directo a casa.

Desse dia em diante passamos a encontrar-nos frequentemente no mesmo local. Todos os dias conversávamos  iluminados pela doce luz da lua, aquecidos pelo vento quente que murmurava nas veredas e embalados pela leve brisa salgada que o mar respirava. Todos os dias passeávamos juntos ao longo da costa. 

Tudo parecia idílico. Excepto à Sexta-Feira.

Todas as Sextas-Feiras eu me deslocava até à praia e nunca a encontrava. Com o coração toldado pela saudades, desmoralizado pela sua ausência retomava para casa. Mas no outro dia voltava a poder admirar aquela beleza que me fascinava, os seus longos cabelos loiros, sentir o doce da sua inocência. Sentir o toque daquele bela e doce criatura que me tinha cativo de si, como nunca outra antes o tinha feito...

Mas uma nuvem veio ensombrar a minha alegria: na aldeia corriam rumores que uma donzela atraia jovens até à praia, assassinava-os e oferecia a suas almas a seu amo Satanás. Dizia-se que esta jovem adorava o demónio e todos os espíritos negros do mal e tudo o que estes representavam. Pior: pensavam que essa jovem era a filha do casal que tinha sido expulso pelo padre e por toda a população por se dedicarem a cultos negros.

Ao ouvir tal, perdido na inocência de uma paixão em conflito com os rumores encontrei um dos meus amigos de infância. Logo lhe contei tudo o que se passava: a paixão que consumia a minha alma, o amor por aquela doce criatura. Ele ouviu atentamente e avisou-me que os rumores poderia ter alguma razão de ser, que o melhor era não a procurar nunca mais.

Insensato,  ofuscado pela paixão, cego com o medo de a perder imaginei que este apenas dizia isto por inveja da minha felicidade. E com a fúria própria dos loucos perdidos, rasguei a nossa amizade com insultos e sepultei-a até ao resto dos nossos dias.

Contudo o medo da verdade toldava o meu sentir e passaram-se meses até que voltei à praia. Temendo confronta-la com os rumores, descobrir que são mentira, ofende-la e perde-la para além da eternidade. Ou então descobrir que os rumores... não o são, mas são apenas o relato da verdade...

Mas uma dia, sexta feira treze, cego pela saudade e pelo desejo de sentir os seus doces lábios corri para a praia. Pensava que não a iria encontrar, pois nunca antes estava às sextas-feiras. 

Mas nesse dia encontrei-a. E ali estava ela deitada na areia escaldante qual sereia trazia pelo embalar das ondas. E louco corri para o seus braços afogando a saudade num lento e doce beijo. 

Ao longe batia o relógio da igreja desprendendo doze lentas e lânguidas badaladas e a lua de prata que brilhava no seu trono, cobriu-se de pesadas trajes de neblina e um frio glaciar desceu sobre a noite.

O beijo de doce mel tornou-se amargo. E então os meus olhos abriram-se e vi a sua face: onde antes vivia uma flor morria agora uma caveira, os seus cabelos haviam desaparecido e os seus olhos eram apenas dois buracos negros sem expressão.

Debatendo-me para libertar-me daquele odor a morte e perdição empurrei-a, lutei pela minha vida... Assim que senti uma pouco de liberdade fugi... Corrido como o vento, deixei aquela praia atrás das costas, e nunca mais aí voltei...

Ainda hoje temo sucumbir à doce tentação de aí voltar, de cair na malha de sedução daquele pesadelo e de sucumbir à sua miragem e mergulhar para a eternidade num abismo de perdição...




Dor

Imagens reflectidas passam por mim
há muito minhas conhecidas
Imagens desconhecidas
Há muito vividas...

Navego nas ondas do pensamento,
tentando recordar...

Não sei se te amei...
Não sei se te chorei...
Mas sei que para sempre te recordarei...

Se te fiz mal não sei,
Se te amei só eu sei,
mas para sempre te lembrarei...

Néctar

Quero beber o néctar dos teus lábios:
essa doce rosa eu quero beijar
teu doce ser eu quero Amar.

Teus olhos castanhos
ternos e meigos...
Duas Chamas
Que ardem no meu coração...

Maria de desejo,
Amor ardente, rio de Paixão  
Insano sou eu em que querer.

Amante louco serei...
Dor ardente que abrassa
o meu amor.....

Capricho dos deuses, onda selvagem
no meu coração reinarás.
Caçadora furtiva escondida em inocência
ireis meu coração fraco aprisionar
apenas com o teu olhar.

Musa inspiradora

Musa inspiradora, amante desejada
Rainha de Mil Reinos, inspiradora de Poetas
Assim és Tu!

Deusa Imaculada adorada por Reis,
desejada por Deuses..
Assim és Tu! 

Criança perdidas nas ondas na paixão
nado sem esperança do
teu coração alcançar...

Esperando ajoelhar em
imaculado altar...

Sem nunca o conseguir,
Criança Inocente, 
Amando-te sem o esperar,
Desejando o teu olhar
sem nunca o alcançar...


Trovas Soltas

Mar de paixões
Anjo Celestial
Raio de Luz que
Ilumina  o meu amor...

Deusa Inspiradora desta Pena,
Assim és Tu!
Caminho pelas ondas
do Teu pensamento
Nunca tentando conseguir
Encontrar a tua inspiração de Musa...

Celeste olhar o teu
Afogando a minha mágoa
nas ondas do teu Contentamento.

Penosamente procuro inspiração,
navegando, passado tormentas
para o teu olhar capturar...

Barco à deriva
Amante eterno nandando
num mar sem dono,
nas ondas do teu olhar.

Ladrão roubado
assim sou eu...
 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Murmurio

















Pérolas de dor soltam-se dos céus
Caindo em pedaços de cristais
Pelos meus olhos se terem perdido dos teus.


Perdido nessas brumas intemporais
Procuro o farol do teu olhar
Olvido a dor que me arrasta
Me afunda e me atormenta
Para longe do teu olhar...

Perdido neste negrume
Sei que toldado o meu azedume
Sempre estarás olhando sob o mesmo luar

E nos ventos fugidios sinto o teu doce murmurar...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Adeus

A noite cai calma e leda, perdida no semblante da tua saudade,
Vogo perdido por esse sentimento que se agora da penumbra,
inebriado pela dor da tua partida imersa nesta exiguidade

Lágrimas de cristal soltam-se do cálice celestial
chorando a escuridão a que perda do brilho do olhar teu
votou este sentir

Nunca mais sentir o sussurrar dessa brisa,
a aflorar a minha pele
nunca mais sentir a fragrância da tua neblina.

E sentir que a dor ocupou o espaço do teu sorrir...
E sentir que a noite sucedeu ao dia...
E Sentir que o sol se afundou na eternidade...
E Sentir o Vazio de ti....

Adeus...

Olhar

Perdido na imensidão do teu olhar
afogo esta doce mágoa de te amar
aqui esquecido nas ruínas
esquecidas das brumas desta paixão
choro, alentado pelo fogo dos teus lábios.

Vagueando na noite fria
errando solitário pelas ruas
esquecido do passado; procuro...
procuro quem nunca vi;
procuro em cada rosto
o amor que não conheci...
o amor que nunca esqueci...

embalado em teus lábios
adormeço ao sibilar do teu doce respirar
esquecido desta dor que é não te ter;
navego no mundo dos sonhos, procurando
nunca esquecer que tu és o meu viver...

A noite



A noite lá fora acaba de nascer, porém a noite que invade o meu ser parece-me velha e eterna. Na rua a chuva caí, molhando o solo árido e ressequido dos beijos do sol ardente. Dentro de mim, minha alma chora, chora esta solidão que atormenta o meu viver, que amargura a minha existência. No jardim o vento brinca com as folhas caídas na relva húmida, no ar dorme uma ligeira neblina que repousa nos braços invisíveis do seu amado, que agora deixou as tenras folhas para se dedicar a sua amada. O verão passara, e o frio começava a fazer-se sentir.

Na lareira crepitava um fogo vivo que devorava, com um apetite voraz, cada tronco que lhe era oferecido. Caminho lentamente em direcção à velha estante da biblioteca, tirando o pó a um dos livros que aí se encontrava. Procuro ler, para afastar o sono, pois com ele vêm os pesadelos que assolam minhas noites, e as imagens que não quero recordar. Pego cuidadosamente nele e coloco-o numa mesa junto da poltrona perto da lareira. Aí já se exonerava o copo de brandi, que servia para consolar minha alma torturada, e para amornar meu espírito, nestas noites sós...

Lá fora o vento sopra cada vez mais assustador, varrendo ruas e vielas, e a chuva continua a cair, ledamente escorrendo pelos beirados, e pelos braços das árvores, correndo em direcção a algum lado, fugindo de si própria, tal como eu fujo de mim....

Sentado frente ao fogo acolhedor da lareira desfolho o livro, mas apesar do calor do fogo, minha alma está gelada, fria, desde daquele dia nunca mais meu coração sentiu o calor de amar. Agora penando na escuridão do meu ser, este pobre coração navega sem rumo nas águas da dor. Esta angústia que devora meu ser empurra-me para o abismo do esquecimento, e assim vou vivendo, em cada dia que passa mergulho cada vez mais fundo nas águas do arrependimento. Subitamente o velho relógio de cuco solta doze longas badaladas... devo ter adormecido, pois o tempo por min não passou. Levanto-me e coloco o livro no seu lugar original, e retiro outro. Mas eis que um som oco e forte solta-se da porta, alguém batia apressadamente à porta, algum fugitivo às intempéries do tempo, que louco andaria na rua numa noite destas, certamente aqui seria bem recebido; sempre me ajudaria a passar a noite e afogar minhas mágoas numa leva e agradável conversa. Porém quando abri a porta apenas o vazio estava na rua, apenas uma rajada de vento procurava forçar a entrada para dentro de casa, certamente procurando o calor acolhedor da fogueira. Retirei-me para dentro de casa fechando a porta atrás de mim; mas novamente as pancadas fazem-se ouvir, com mais força, mais sonoras, zangadas.

Vou novamente à porta, porém desta vez, o vazio fora substituído pela doce figura de um anjo, frente à porta, diante de min, estava uma jovem donzela, molhada, em todo o seu esplendor. Desde o primeiro momento a sua beleza capturou meu ser; e agora as nuvens que assombravam minha alma se afastam. Apressadamente mandei-a entrar, e sentei-a junto à lareira. Quando já se encontrava seca e após uma bebida quente, começamos a conversar. Esta bela jovem chamava-se Aline e era bibliotecária, e aparentemente tinha-se perdido na noite escura, quando passeava sozinha, antes da tempestade, e não conseguira achar o caminho de volta, e ao longe tinha visto uma luz na escuridão e dirigiu-se para ela. A assim aqui chegou.

Lá fora a noite a noite ia avançada, a chuva não parava, e o vento continuava a castigar os fatigados ramos das árvores. Cá dentro, o calor da lareira só era ofuscado pelo brilho daquele ser resgatado às torturas do tempo. Seus olhos verdejantes, quais prados primaveris, brilhando aos primeiros raios da aurora matinal, iluminavam minha alma escura e só; o seu cabelo dourado, corria levemente pelos seus ombros como uma cascata correndo suavemente, para o mar da sua paixão; perto seus lábios rosados, a mais vermelha das rosas tornava-se pálida. Tudo bela atraia o meu coração. Ao calor da fogueira conversamos amenamente, até que me certo momento, atraídos por um impulso, nossos lábios tocam-se num instante eterno, nossos olhos cruzam-se numa olhar divino, nossos corpos fundem-se num só existir, e caímos nos braços da paixão. Meu ser exaltou por breves momentos, a mágoa e a dor foram esquecidas, apenas a felicidade e o amor tinham lugar no meu seio. Envolvidos num abraço apaixonado, o doce anjo adormeceu nos meus braços exaltando de felicidade, carinhosamente, fiquei deslumbrando tão doce flor, passando os dedos pelos seus finos fios de cabelo. E assim ficamos até ao amanhecer.

Fiquei toda a noite contemplando aquele doce anjo, ouvindo o seu doce respirar, bebendo cada trago do seu delicado ar. Porém toda a felicidade é efémera... O sol nasce lá sopra, e cá dentro renasceu a escuridão do meu ser, pois... Oh!... Meu Deus... aquela imagem começou a desvanecer-se, perante min fugindo dos meus braços, até finalmente apenas ficar a recordação de seu rosto. Oh! Deus... estarei a enlouquecer, terá a minha solidão tornado-me febril e louco. Já não sei... Já não sei o que é ilusão e o que é real. Apenas sei que naqueles fugazes instantes a tive em meus braços. Mas tive o quê? Seria real, ilusão, teria adormecido e sonhado, estaria acordado e tudo isto tinha sido uma alucinação doentia do meu cansaço, da minha solidão, ou seria tudo real? Não sei... sinceramente ignoro a realidade, mas não ignoramos nós todos?

Lá fora o dia nasce, o sol brilha, e uma leve neblina passa despreocupada pelas ruas. Cá dentro o silêncio... na escuridão choro, espero pela morte, olhando o espelho de minha alma, mas já não reconheço a imagem reflectida, sou eu... mas não sou eu.... mas no fundo sempre serei eu; procuro na minha memória ver a sua imagem reflectida, mas apenas encontro o vazio da sua partida. Mas apesar desta tristeza sou feliz, pois por efémeros momentos amei, por breves momentos vivi, pois a vida é amor, e amar é viver. Ilusão, sonho ou realidade, amei e foi feliz... Pobre daquele que nunca nada, nem sonho, nem realidade, nem ilusão, pois nunca chegou a viver, toda a sua vida foi uma ilusão...
Aqui perdido na dor da saudade
Anseio por sentir o teu olhar
perdido no meu

Olha o céu negro como a minha alma
ouço o choro da lua por te ter perdido
suas lágrimas ecoam no meu coração
esqueci de si clama por ti

Sinto o teu nome sussurrado no vento
um calor enche meu coração
pela recordação do teu perfume
olvidado pela minha memória...

Saudade negra que me perde
Cada passo leva-me errante...
Procuro por mim nos recantos de mim...

Meu coração partiu para o nevoeiro eterno
atraído pelo doce cantar de sereia
pelo néctar dos teus lábios
voga sem sentido
perdido na bruma
baila na gentil brisa
procurado o farol dos teus olhos.

E no meu ser apenas um doce sussurrar
distante e frágil que me diz:
Amo-te hoje, amanhã e sempre,
para toda a eternidade e para além dela...

Saudade



Perco o teu Rosto
nesta neblina que se enquista
sinto a distancia que se perde num murmúrio...

Um gota de orvalho que se perde
cadenciada pelo bater do nosso coração
num dança esquecida na brumas do teu ser

Fica apenas a saudade desse olhar
sereia que na tempestade me guia rumo
ao porto seguro dos teus lábios.

Perdi a luz nas passagens do tempo,
e hoje rumo perdido nas trevas


Trevas que sufocam e oprimem
este sentir, que se tenta libertar
Das grilhetas  que o prendem
à saudade desse passado...

Passado que se quer tornar Presente
para de Presente nascer futuro
e de futuro desabrochar eternidade

E para além dela a saudade
ficar saudosamente esquecida
nos confins do nosso viver...